12.3 |
Notação de Laplace |
12.3.1 Função de TransferênciaConsidere-se o circuito RL na Figura 12.12.a e admita-se que a fonte de sinal é sinusoidal. Figura 12.12 Circuito RL no domínio do tempo (a), em notação fasorial (b) e na notação de Laplace (c) A aplicação da Lei de Kirchhoff das tensões ao circuito permite escrever, no domínio do tempo,
e em notação fasorial (Figura 12.12.b)
Por exemplo, em notação fasorial pode definir-se a resposta em frequência
que, neste caso, expressa a admitância do circuito vista a partir dos terminais da fonte. Contudo, a aplicação da transformada de Laplace à igualdade (12.63), admitindo condições iniciais nulas (Figura 12.12.c), permite escrever
em que s=s+jw define uma variável no plano complexo. O cociente
designa-se por função de transferência entre as variáveis tensão na entrada e corrente no circuito. A relação entre a resposta em frequência e a função de transferência é
isto é, a resposta em frequência coincide com a função de transferência calculada sobre o eixo imaginário (recorde-se que s é uma variável complexa). Esta igualdade permite escrever as impedâncias dos elementos resistência e bobina na notação de Laplace
podendo facilmente demonstrar-se que no caso do condensador se obtém
Na Tabela 12.3 indicam-se as características da resistência, do condensador e da bobina no domínio do tempo, em notação fasorial e na notação de Laplace.
Tabela 12.3 Características dos elementos resistência, condensador e bobina As funções de transferência são em geral definidas por um cociente de dois polinómios
que, por sua vez, podem ser escritos na forma de um produto de factores
As raízes dos polinómios no numerador (-zi) e no denominador (-pi) designam-se por zeros e pólos da função da transferência, respectivamente, raízes que dependem dos parâmetros do circuito e são, no caso geral, números complexos. Considerem-se então os três circuitos representados nas Figuras 12.13.a, 12.13.b e 12.13.c. Figura 12.13 Diagrama de pólos e zeros No primeiro caso, Figura 12.13.a, a função de transferência entre as variáveis Vs(s) e VC(s) é expressa pelo cociente
e apresenta um pólo real negativo em -1/RC. Por outro lado, no caso do circuito RLC representado na Figura 12.13.b, a função de transferência entre a fonte de sinal e a tensão aos terminais do condensador é dada pelo cociente
cuja representação na forma de um produto de factores é
em que
Os pólos em (12.76) podem ser reais, negativos e distintos (Q<0.5); reais, negativos e iguais (Q=0.5); ou ainda complexos conjugados (Q>0.5). Finalmente, no caso do circuito da Figura 12.13.c, a função de transferência entre os terminais da fonte de sinal e os terminais da resistência e da bobina é
ou seja,
em que z1=0, z2=R/L=wo/Q e p1 e p2 são dados pela expressão (12.76) anterior. Neste caso, e como indicado na Figura 12.13.c, a função de transferência é composta por dois zeros, um dos quais na origem, e dois pólos, neste caso considerados como reais, negativos e distintos (Q<0.5). Uma das vantagens da notação de Laplace, e em particular da escrita da função de transferência na forma de um produto de factores, é a possibilidade de a partir do diagrama de pólos e zeros ser possível identificar o andamento da amplitude e da fase da resposta em frequência correspondente. Considere-se então a função de transferência
neste caso com um zero real negativo e dois pólos complexos conjugados (Figura 12.14.a). A resposta em frequência coincide com a função de transferência calculada sobre o eixo imaginário
cuja representação em formato polar é
Como se vê nas Figuras 12.14.b a 12.14.g, a amplitude e a fase podem ser identificadas com as amplitudes e os ângulos (com o eixo real positivo) dos segmentos que unem os pólos e os zeros ao ponto no eixo imaginário correspondente à frequência angular. Por exemplo, nas Figuras 12.14.b e 12.14.c representam-se as amplitudes e os ângulos dos vectores correspondentes à frequência angular w=0 rad/s; nas Figuras 12.14.d e 12.14.e considera-se a frequência angular w=1 rad/s; e nas Figuras 12.14.f e 12.14.g considera-se o limite quando a frequência angular tende para infinito. Constata-se, assim, que a fase na origem (w=0 rad/s) é nula e tende para -p/2 radianos no limite sempre que a frequência angular tende para infinito. Figura 12.14 Determinação gráfica da amplitude e da fase da resposta em frequência 12.3.2 Diagramas de Bode CanónicosConsidere-se a função de transferência
definida pelo cociente entre dois polinómios na variável s, um de ordem-N (numerador) e outro de ordem-D (denominador). Nos sistemas estáveis as raízes podem ser:
A forma factorizada de uma função de transferência é, portanto,
em que o termo KND define uma constante, os índices Roz e Rop definem o número de zeros e de pólos na origem, Rz e Rp indicam o número de zeros e pólos reais e, finalmente, Cz e Cp representam o número de pares de zeros e de pólos complexos conjugados, respectivamente. Existem, portanto, sete tipos de factores cujos diagramas de Bode assintóticos interessa identificar:
Factores Constantes: os diagramas de Bode de amplitude e de fase dos factores constantes são constituídos por assíntotas horizontais de valor
no caso da amplitude, e de valor
no caso da fase. Figura 12.15 Factores constantes Zeros e Pólos na Origem: os zeros na origem caracterizam-se por uma assíntota oblíqua cujo declive é 20dB por década e por pólo,
às quais pertence o ponto w=1 rad/sec, 0 dB. Pelo contrário, os pólos na origem caracterizam-se por uma assíntota oblíqua com declive negativo,
Os diagramas de fase dos zeros e dos pólos na origem são constituídos por assíntotas horizontais, no primeiro caso de valor Roz*p/2 radianos e no segundo de -Rop*p/2 radianos. Figura 12.16 Zeros e pólos na origem Zeros e Pólos reais: as assíntotas dos diagramas de Bode de amplitude e de fase dos pólos e dos zeros reais foram determinadas na Secção 12.1.2. Por exemplo, no caso dos zeros
para frequências inferiores ao módulo do zero, e
para frequências superiores. No caso dos pólos
e
respectivamente para frequências inferiores e superiores ao módulo do pólo (Figura 12.17.b). A fase varia de p/2 radianos em torno da frequência do zero ou do pólo. Figura 12.17 Zeros reais positivos e negativos (a) e pólos reais negativos (b) Zeros e Pólos Complexos Conjugados: Nas funções de transferência com coeficientes reais, os zeros e os pólos complexos são sempre conjugados dois a dois. Considere-se então o par de zeros complexos conjugados
em que Q e wo são, respectivamente, o factor de qualidade e a frequência natural (os sinais + e - aplicam-se aos zeros complexos conjugados com parte real positiva e negativa, respectivamente). A resposta em frequência é, neste caso,
em que x=w/wo define a frequência angular normalizada a wo. De (12.93) resultam
e
respectivamente para a amplitude e para a fase. Na expressão da amplitude identificam-se as seguintes duas assíntotas:
para x<<1, e
isto é, 40 dB por década para x>>1 (ver Figura 12.18.a). No que respeita à fase, as assíntotas são
para x<<1, e
para x>>1. Figura 12.18 Par de zeros (a) e de pólos (b) complexos conjugados As assíntotas constituem uma boa aproximação dos diagramas de Bode apenas nos casos em que x>>1 ou x<<1, ou então quando o factor de qualidade é próximo de ½. Como se indica na Figura 12.19, para factores de qualidade muito distintos de ½, o diagrama de Bode de amplitude difere substancialmente das assíntotas junto à frequência normalizada x=1, apresentando em particular sobre-atenuações (zeros) ou sobre-elevações (pólos). No diagrama de fase, factores de qualidade elevados conduzem a transições abruptas de amplitude p radianos junto ao valor de x=1, enquanto factores de qualidade inferiores a ½ conduzem a transições relativamente lentas. Figura 12.19 Par de zeros (a) e de pólos (b) complexos conjugados Simulador da Resposta em Frequência de Circuitos |