5.1 |
Método dos Nós |
O método
dos nós permite obter a tensão em cada um dos (N-1)
nós de um circuito (o N-ésimo nó é definido
pela referência, cuja tensão se conhece à partida ou
se admite ser 0 V). As (N-1) variáveis são
obtidas por resolução de um sistema de (N-1)
equações algébricas linearmente independentes, cuja
obtenção se resume à aplicação da Lei de Kirchhoff
das tensões aos nós do circuito. O método dos nós consiste na aplicação consecutiva dos seguintes quatro passos:
Esta metodologia é válida para qualquer circuito com fontes independentes e dependentes. 5.1.1 Fontes de Corrente IndependentesConsidere-se um circuito constituído apenas por resistências e fontes de corrente independentes (Figura 5.2). Figura 5.2 Método dos nós: circuito com fontes de corrente independentes Pretende-se analisar o circuito através do método dos nós. Passo 1: uma vez que o circuito possui três nós (N=3), conclui-se que são necessárias (N-1)=2 equações para a sua resolução (é comum definir-se a referência como sendo o nó no qual incide o maior número de ramos). Os sentidos arbitrados para as correntes em cada um dos ramos encontram-se indicados na própria figura. Passo 2: a aplicação da Lei de Kirchhoff das correntes aos nós-1 e -2 do circuito permite escrever as seguintes equações:
Passo 3: a substituição da Lei de Ohm nos termos relativos às correntes nas resistências permite rescrever as equações (5.1) e (5.2) na forma
que, em conjunto, definem um sistema de equações algébricas cuja representação matricial é
Passo 4: a resolução do sistema de equações (5.5) permite obter as expressões das tensões nos nós-1 e -2,
e
respectivamente. Uma vez conhecidas as tensões v1 e v2, podem então determinar-se as correntes nas três resistências, designadamente através das relações
e
Considere-se agora o circuito representado na Figura 5.3, o qual é composto por diversas fontes de corrente independentes. Figura 5.3 Exemplo de aplicação do método dos nós A aplicação sistemática dos preceitos do método permite obter os seguintes resultados: Passo 1: uma vez que o circuito contém quatro nós (N=4), são necessárias (N-1)=3 equações linearmente independentes para a sua resolução. Passos 2 e 3: a aplicação da Lei de Kirchhoff das correntes aos nós-1, -2 e -3 permite obter, após substituição da Lei de Ohm nos termos relativos às resistências, as equações algébricas
que, em conjunto, definem um sistema de três equações algébricas cuja representação matricial é
Passo 4: a aplicação da regra de Cramer à relação matricial (5.14) permitir obter as expressões das tensões nos três nós do circuito (ver Apêndice-B), designadamente
e
em que D define o determinante da matriz [G], e D1, D2 e D3 definem os determinantes da matriz [G] quando a primeira, a segunda e a terceira colunas, respectivamente, são substituídas pelo vector das fontes de corrente independentes, [is]. Por exemplo, a expressão da tensão no nó-1 (expressão (5.15)) resulta da expansão do cociente entre determinantes
Os exemplos de aplicação apenas considerados permitem derivar um conjunto de regras de construção sistemática da relação matricial característica de um circuito. Verifica-se assim que na relação matricial:
5.1.2 Fontes de Tensão IndependentesA presença de fontes de tensão num circuito tem como principal consequência a redução do número de equações linearmente independentes cuja obtenção exige a aplicação da LKC. A razão desta redução é simples: as fontes de tensão definem por si só ou a tensão ou a relação entre as tensões em dois nós. Por conseguinte, é comum distinguir três tipos de ligação das fontes de tensão: ligadas ao nó de referência (Caso 1); ligadas entre dois nós distintos da referência (Caso 2); e ligadas em série com uma resistência, definindo em conjunto uma fonte com resistência interna (Caso 3). Caso 1: Fontes de Tensão Independentes Ligadas ao Nó de Referência Considere-se o circuito representado na Figura 5.4, o qual integra uma fonte de tensão independente. A análise do circuito visa obter as expressões das tensões nos nós-1 e -2, que na secção anterior resultavam da aplicação da LKC aos nós referidos. No entanto, no caso presente verifica-se que a tensão no nó-1 é definida de forma explícita pela fonte de tensão vs, não constituindo, portanto, uma variável a determinar por aplicação da LKC. Figura 5.4 Método dos nós (Caso 1) Com efeito, para cada um dos dois nós do circuito podem obter-se as equações
portanto já resolvida, e
a qual, por substituição de (5.22), permite obter a equação algébrica
na qual se inscreve a expressão da tensão no nó-2
Identificam-se assim as seguintes alterações relativamente ao método introduzido anteriormente:
Caso 2: Fontes de Tensão Independentes Ligadas entre dois Nós Distintos da Referência Na Figura 5.5 considera-se o caso de um circuito que possui uma fonte de tensão ligada entre dois nós distintos da referência. Figura 5.5 Método dos nós (Caso 2) Este facto indicia uma relação entre as tensões respectivas,
e, portanto, entre as equações eventualmente obtidas por aplicação da LKC. Os nós-2 e -3 definem aquilo que vulgarmente se designa por super-nó ou nó generalizado. Arbitrando a tensão no nó-2 como a incógnita a resolver, verifica-se que
no nó-1, e
no super-nó-2-3. Portanto, é válida a relação matricial
Caso 3: Fontes de Tensão com Resistência Interna Considere-se na Figura 5.6.a um circuito com uma fonte de tensão com resistência interna. Figura 5.6 Método dos nós (Caso 3) Sendo o circuito de quatro nós, designadamente a referência e os nós-1, -2 e -3, e inclui uma fonte de tensão, à partida seria necessário aplicar duas vezes a LKC. No entanto, existem aqui dois modos de reduzir a ordem da relação matricial:
A segunda alternativa reduz automaticamente o número total de nós do circuito. Uma vez que o circuito transformado contém apenas fontes de corrente independentes, é fácil verificar que a relação matricial respectiva é dada por
Considere-se na Figura 5.7.a um circuito que integra simultaneamente fontes de corrente e de tensão independentes. Tendo o circuito quatro nós, à partida seria necessário aplicar três vezes a LKC, designadamente aos nós-1, -2 e -3. No entanto, este circuito apresenta como particularidades:
Figura 5.7 Exemplo de aplicação do método dos nós De acordo com as simplificações em (i) e (iii), a análise do circuito resume-se à aplicação da LKC ao nó-2,
equação na qual se inscreve a expressão da tensão respectiva
Caso fosse necessário determinar as tensões nos nós-1 e -3, então
e
5.1.3 Fontes de Corrente DependentesA inserção de fontes dependentes nos circuitos acarreta apenas alterações ao nível da matriz de condutâncias. Tais alterações devem-se essencialmente ao facto de as fontes dependentes serem uma função da tensão entre nós ou da corrente num elemento - portanto, uma função das próprias variáveis do circuito. Na Figura 5.8.a considera-se um circuito que inclui uma fonte de corrente controlada pela tensão aos terminais de uma resistência. A aplicação do método dos nós a este circuito baseia-se em dois passos: Figura 5.8 Método dos nós: circuito com fonte de corrente dependente Passo 1: inicialmente anulam-se todas as fontes dependentes (Figura 5.8.b) e aplica-se o método tal como introduzido ao longo das secções anteriores. Uma vez que este circuito não possui fontes de tensão, a inspecção do mesmo permite obter directamente a relação matricial
Passo 2: seguidamente introduzem-se os efeitos devidos às fontes dependentes. Uma vez que no presente caso a fonte dependente se encontra ligada apenas ao nó-1, só a equação relativa a este nó deve ser redefinida. Assim,
ou seja
A inspecção da relação (5.37) permite constatar que o efeito devido à fonte dependente incorpora a matriz [G], mais concretamente na linha correspondente ao nó e nas colunas relativas às variáveis que a controlam. 5.1.4 Fontes de Tensão DependentesA análise de circuitos com fontes de tensão dependentes integra aspectos comuns às metodologias estabelecidas anteriormente para os circuitos com fontes de tensão independentes e fontes de corrente dependentes: cada fonte de tensão dependente reduz de uma unidade o número de nós aos quais é necessário aplicar a LKC, mas os seus efeitos incorporam apenas a matriz [G]. Tal como para o caso dos circuitos com fontes independentes, podem distinguir-se três tipos de ligação das fontes de tensão dependentes: fontes ligadas ao nó de referência (Caso 1); fontes ligadas entre dois nós distintos da referência (Caso 2); e fontes de tensão ligadas em série com uma resistência, definindo no conjunto uma fonte de tensão com resistência interna (Caso 3). Caso 1: Fontes de Tensão Dependentes Ligadas ao Nó de Referência Considere-se o circuito da Figura 5.9.a, o qual possui no seu seio uma fonte de tensão controlada pela corrente na resistência R2, aqui designada por i2. Figura 5.9 Método dos nós: circuito com fonte de tensão dependente (Caso 1) Uma vez que o circuito possui quatro nós, em princípio seria necessário aplicar três vezes a LKC. Identificam-se as seguintes duas particularidades: a fonte de tensão vs e a resistência R1 podem ser transformadas numa fonte de corrente com resistência interna, o que permitirá eliminar o nó-3 (Figura 5.9.b); e a fonte dependente estabelece uma relação entre a tensão no nó-2 e as variáveis que a controlam, neste caso
A análise do circuito resume-se, assim, à aplicação da LKC ao nó-1,
a qual tendo em atenção (5.38) se simplifica para
ou seja
A relação (5.40) indica que os efeitos da fonte de tensão dependente se fazem sentir na matriz [G], para além, muito naturalmente, da redução operada sobre o número de aplicações da LKC. Caso 2: Fontes de Tensão Dependentes Ligadas Entre Dois Nós Distintos da Referência Na Figura 5.10 considera-se o caso de um circuito que integra uma fonte de tensão dependente. Esta fonte estabelece uma relação entre as tensões nos nós-1 e-2, definindo em conjunto um super-nó, facto que permite reduzir para um o número total de aplicações da LKC necessárias. Figura 5.10 Método dos nós: circuito com fonte de tensão dependente entre dois nós distintos da referência (Caso 2) A análise do circuito resume-se, então, à aplicação da LKC ao super-nó 1-2,
que após substituição das relações
e
ou seja
se pode rescrever
ou ainda
Caso 3: Fontes de Tensão Dependentes com Resistência Interna O circuito figurado em 5.11.a é composto por quatro nós, dos quais um coincide com a referência. Figura 5.11 Método dos nós: inclusão de fontes de tensão dependentes com resistência interna (Caso 3) Aparentemente seria necessário aplicar três vezes a LKC, designadamente aos nós-1, -2 e -3, deste modo obtendo um sistema de três equações a três incógnitas. No entanto, os nós-2 e -3 podem ser eliminados através da associação em série das resistências R2 e R3, seguida da transformação de fonte do conjunto resistências e fonte de tensão dependente (Figura 5.11.b). O circuito simplificado coincide na forma com um dos casos considerados anteriormente, sendo em particular válido
da qual resulta a expressão da tensão no nó-1
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